11.10.06

"Renato Russo nos fazia acreditar em nós mesmos"

Dado Vila-Lobos

Surpreendo-me ao perceber como dez anos se passaram tão rapidamente desde a morte do Renato Russo. O tempo é cruel, mas também é um santo remédio, capaz de absorver a dor da ausência. Fazendo um balanço, vejo quantas coisas mudaram nesse período, ainda que não tenha notado. Minha vida hoje é completamente diferente da que levava tocando com a Legião Urbana. Estou à frente de um recomeço, com a minha carreira solo, muito parecida com o nosso início em Brasília. É instigante voltar a tocar em espaços menores, para platéias pequenas, como fazíamos na década de 80.
Isso me faz lembrar do Renato, quando fui convidado pelo Marcelo Bonfá para fazer parte da Legião, em 1983. Tínhamos três semanas para criar e ensaiar um repertório para um show de apresentação de bandas novas de Brasília. Parecia impossível, mas o Renato nos fazia acreditar em nós mesmos. Era uma pessoa extremamente cativante e estimulante, capaz de nos puxar da inércia para a criação. Daqueles ensaios na casa dele saíram músicas que fizeram parte de nosso primeiro disco, como Ainda é cedo, Petróleo do futuro, Será e Teorema. Com a morte do Renato, perdemos um hiper-super-intérprete, com um carisma inigualável. Mas, para além disso, ficamos sem essa figura intensa, sempre disposta a sacudir o público e mostrar que o jovem tem a força da palavra e é capaz de mudar o país. É curioso ver como tantos adolescentes de hoje, que mal se lembram do Renato, continuam sendo tocados e transformados pelas canções da Legião. Acredito que esta obra seja o principal legado deixado por ele. Com a distância de sua morte, seria estranho nos relacionarmos apenas com sua lembrança física. Sempre há o risco de a sua figura ser deturpada. Por isso, esse repertório gravado é o que de mais importante ficou e certamente vai ficar dele.
Tenho muita, muita saudade dos momentos que passamos juntos no estúdio, criando e trocando idéias musicais. Hoje, quando componho, sinto falta de uma pessoa como ele, que, do nada, conseguia levar uma progressão de duas notas para um lado extremamente diferente, inusitado. A música é algo meio mitológica, espiritual, na qual as influências surgem e se misturam o tempo todo. Nesse sentido, o Renato é totalmente presente na minha criação. Ele segue me inspirando, intuitivamente. Quando entrei na Legião Urbana, aos 17 anos, não imaginava o que poderia acontecer na minha vida. Estava me preparando para entrar na faculdade de Sociologia, quando tudo mudou radicalmente. A carreira que mantenho até hoje só aconteceu porque tive um cara como ele ao meu lado. O Renato provou ser possível acreditar em certas idéias e que os sonhos podem ser realizados.
A Legião viva nas nossas mentes, em minha alma!!!
Me entristece não ter descoberto a Legião antes.
Mas as águas da vida assim o quiz, quem sou para poder contê-la!!

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